Marina Figueiredo
O dia tem 24 horas e, por mais que tentemos nos planejar para dar conta de tudo, parece que o tempo é insuficiente. Para dar conta do impossível (nunca dá tempo de fazer tudo que queremos), vivemos correndo contra o tempo. A pressa é uma constante na vida de muita gente (e na minha vida, diga-se de passagem). Inacreditavelmente, me vejo tomando banho, escovando os dentes, almoçando, dirigindo – sempre em speedmotion.
Acredito que quando fazemos as coisas correndo, deixamos de vivenciar os momentos e de valorizar sua essência. Dentro da justificativa de que o dia é curto demais para a quantidade de afazeres que temos, nossa pressa torna-se fundamentada.
Acredito piamente que “a pressa é inimiga da perfeição”, mas é também inimiga da gentileza e da boa educação. É muito louco observar, que vivemos acelerados, numa corrida desenfreada, que nem sabemos ao certo qual o ponto de chegada.
Nos tornamos absurdamente egoístas. Você já parou para pensar que não temos tempo sequer de olhar para o outro? Muitas vezes, não ouvimos o que os nossos próprios filhos têm a nos mostrar e dizer. E se em casa é assim, quem dirá fora dela. Dar um singelo “bom dia” no elevador tornou-se raridade (aliás, todos estão muito ocupados em seus celulares). Ah, permitir que um carro entre na sua frente numa pista engarrafada? “Nem pensar, afinal, já estou atrasada”. Ceder a vez na fila do mercado? “Impossível, aliás, já perdi muito tempo fazendo supermercado e preciso correr para o meu próximo compromisso”.
Você já parou para pensar, que na era dos contatos telefônicos, feitos quase em sua totalidade pelo WhatsApp (meio pelo qual falamos, ao mesmo tempo com todo mundo), achamos um completo absurdo quando alguém “ousa” nos ligar. Num passado distante, jamais imaginei, que um dia, ligar para alguém fosse virar uma afronta! Aquela frase “você vive online, mas nunca atende quando eu ligo” tem sido mais dita do que “eu te amo”, por casais recém-casados.
Mas, sendo honesta, as pessoas não atendem não só porque “não tem tempo”, mas porque não tem paciência e empatia. E nesta inversão de valores impensada, vivenciada por muitos de nós, colecionamos melhores amigos pelas redes sociais, contudo, nunca temos tempo de encontrar um amigo real. Minha frase predileta? “Vamos marcar de nos encontrar!” Em 80% dos casos, os encontros não saem do papel (ou da tela do celular).
Nessa pressa desenfreada que vivemos, ser ouvido por alguém é raridade. E se você encontrar alguém que percebeu que está prestando atenção no que diz, valorize (não se estenda, fale objetivamente e seja gentil). Afinal todos estão ocupados, com sei lá o quê.
Todo dia é dia. Quem é apressado não tem dia para estar acelerado. Até nas férias e no final de semana, vive ligado no 220 e no piloto automático. Até porque, a pressa não tem dia, nem hora: é um estado de espírito.
Outra razão pela qual a pressa está sempre latente: estamos sempre atrasados! Na boa, o brasileiro precisa ser estudado (e eu me incluo nesse objeto de análise)! Mas o fato é que, em terra de pessoas atrasadas, quem é pontual é chato!
Isso mesmo, estar atrasado virou padrão e chegar na hora é atitude de pessoas sistemáticas e controladoras. Afinal, elas ficam incomodadas de só elas no planeta chegarem na hora.
O fato é que se nos planejássemos da maneira adequada, calcularíamos melhor o tempo que gastamos para cada atividade e chegaríamos na hora nos nossos compromissos. Nossa saúde agradeceria e o bolso também (no meu caso, o Detran e o DER insistem em me perseguir. Se depender da minha pressa, os Correios continuarão ativos, pois todo dia eles me entregam correspondências – ora notificações, ora infrações, propriamente ditas).
“Ando devagar porque já tive pressa”. Almir Sater, meu caro, um dia ainda entoarei essa canção, orgulhosa da minha evolução. Por enquanto, sigo muito ocupada para tirar o pé do acelerador e colocá-lo no freio.