A febre do Nilo Ocidental, transmitida por mosquitos, tem se espalhado rapidamente pelos EUA e Europa, preocupando autoridades de saúde devido à ausência de tratamento específico ou vacina. A doença provoca febre alta, dores articulares e musculares, dor de cabeça e inchaço dos gânglios, podendo ser fatal em alguns casos. Mudanças climáticas e globalização facilitam sua propagação para regiões antes não afetadas. Até julho deste ano, oito países europeus relataram 69 casos e oito mortes. No Brasil, o primeiro caso foi confirmado, pela Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) em maio de 2023, com o diagnóstico de um adolescente de 16 anos no Tocantins. Nos EUA, o vírus afeta cerca de 2 mil pessoas por ano, resultando em mais de 120 mortes anuais.
Segundo Carolina Lázari, médica infectologista e patologista clínica, membro da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial (SBPC/ML), a febre do Nilo Ocidental é uma arbovirose, ou seja, uma doença viral transmitida pela picada de mosquitos infectados. “Nesse caso, os mosquitos do gênero Culex – pernilongos comuns – são os vetores. Isso diferencia essa doença de outras arboviroses, como dengue, zika e chikungunya, que são transmitidas por mosquitos do gênero Aedes”, explica a especialista. Ela ressalta que o ciclo viral da febre do Nilo Ocidental se extingue no ser humano, que é um hospedeiro acidental. “Ao contrário da dengue, o ser humano infectado não serve de fonte para outros mosquitos, tornando a transmissão sustentada dependente dos reservatórios naturais.”
Os principais reservatórios do vírus são aves migratórias e alguns mamíferos. Isso significa que a introdução do vírus em novas regiões está mais relacionada ao deslocamento dessas aves do que ao aumento de casos humanos. Lázari destaca que as mudanças climáticas desempenham um papel crucial na propagação de doenças transmitidas por mosquitos, como a febre do Nilo Ocidental. “Os mosquitos, em sua maioria, habitam regiões tropicais e subtropicais, que são quentes e úmidas. À medida que o aquecimento global avança e altera os regimes de chuva, esses mosquitos conseguem se adaptar a áreas que antes não eram favoráveis ao seu desenvolvimento”, ressalta a especialista da SBPC/ML, acrescentando que isso tem resultado em uma maior infestação de mosquitos em locais que não tinham esse problema anteriormente, criando condições propícias para a disseminação de doenças.
De acordo com Carolina Lázari, os sintomas da febre do Nilo Ocidental são bastante semelhantes aos de outras arboviroses, como dengue, zika e febre amarela. “Os pacientes geralmente apresentam febre, dor de cabeça, mal-estar, dores no corpo e nas articulações, podendo também ocorrer manchas vermelhas na pele”, explicou. Dada essa semelhança, ela enfatiza a importância dos exames laboratoriais para diferenciar a febre do Nilo Ocidental de outras doenças virais, especialmente em regiões onde mais de um desses vírus esteja circulando.
O diagnóstico precoce pode ser feito com exames de PCR, tanto em amostras de sangue quanto de líquor. “Embora os exames sorológicos possam ser utilizados, há um risco elevado de falsos positivos devido à reatividade cruzada com outros flavivírus, como dengue e zika”, alerta a médica. Sem tratamento específico ou vacina disponível, a prevenção da febre do Nilo Ocidental depende do controle dos mosquitos e da vigilância. As medidas preventivas incluem o controle ambiental, para evitar a proliferação de mosquitos, e o uso de repelentes para proteção individual. “Assim como no caso da dengue, é importante evitar a formação de criadouros, como água parada em pratinhos de plantas, baldes, pneus e caixas d’água abertas”, alerta Lázari.
Ela também destaca a necessidade de vigilância de aves migratórias, cuja testagem é fundamental quando são encontradas mortas ou com sintomas neurológicos. Já os equinos, assim como os seres humanos, são hospedeiros acidentais. “Contudo, o monitoramento desses animais pode indicar a presença do vírus em uma determinada região. Esses animais são um marcador importante de que o vírus está sendo transmitido entre aves e mamíferos e que há risco de casos humanos.”
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