Como reconhecer e estimular o potencial de uma criança superdotada? E como lidar com as dúvidas, expectativas e desafios que surgem a partir desse diagnóstico? Essas são algumas questões esclarecidas no livro “Desenvolvendo o potencial de crianças superdotadas – Guia prático para famílias” (editora Appris) das pesquisadoras e professoras de Psicologia Denise Fleith e Cristiana Aspesi. Baseado em evidências científicas e em décadas de experiência no estudo e acompanhamento de crianças com altas habilidades, o livro oferece orientações práticas, com amplas sugestões e recomendações para nortear o cotidiano das famílias. A proposta é preencher uma lacuna histórica no país, onde grande parte das publicações sobre superdotação ainda se concentra no contexto escolar. O lançamento do livro será no dia 28 de novembro, às 19h, na Livraria da Vila (Shopping Iguatemi Brasília).
“Nosso objetivo é oferecer informação de qualidade e estratégias acessíveis para que pais e mães compreendam melhor o fenômeno e saibam como apoiar seus filhos”, explica Denise, professora da Universidade de Brasília (UnB) e ex-presidente do Conselho Mundial para Crianças Superdotadas e Talentosas. As autoras adotam uma abordagem contemporânea, que apresenta a superdotação como um processo em desenvolvimento — resultado da interação entre fatores pessoais, como habilidades acima da média, criatividade, envolvimento com a tarefa, e estímulos do ambiente. “Não se trata de algo fixo ou pronto. Cada superdotado é único e precisa de experiências, oportunidades e ambientes estimuladores que favoreçam seu crescimento”, destaca Denise.
Entre os principais desafios enfrentados pelas famílias de crianças superdotadas estão a falta de preparo das escolas e a ausência de políticas efetivas de gestão dos processos de ensino e aprendizagem. De acordo com a autora Cristiana, o problema começa na formação dos profissionais da educação. “O Brasil ainda desconhece a área da superdotação. São raras as universidades que oferecem essa disciplina na graduação em pedagogia ou psicologia. Esse despreparo vem de uma lacuna cultural e acadêmica”, afirma Cristiana, que é professora de Psicologia da Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal. Segundo ela, embora existam iniciativas de referência, como o trabalho pioneiro de núcleos de atendimentos às altas habilidades no Distrito Federal — que mantém 46 salas de recursos, organizadas em 113 turmas, localizadas em 30 polos educacionais públicos —, ainda faltam investimento e continuidade nas ações. “As políticas públicas são bem desenhadas, mas precisamos de compromisso político, disseminação de informação de qualidade e profissionais habilitados para identificar e atender os estudantes superdotados”, ressalta.
O cenário é ainda mais desafiador nas escolas particulares, onde a identificação e o atendimento especializado são quase inexistentes. Para reverter esse quadro, Cristiana defende avanços como formação docente, contratação de psicólogos escolares, criação de programas de enriquecimento curricular e parcerias com universidades que estimulem a pesquisa e o desenvolvimento de talentos. É importante também que as escolas criem uma cultura que seja receptiva e responsiva à diversidade e diferenças de estilos, habilidades, características e interesses. Os números reforçam a urgência do tema: segundo o Censo Escolar da Educação Básica de 2024 (INEP), entre cerca de 47 milhões de matrículas, apenas 44.171 estudantes (0,094%) foram registrados como superdotados. As pesquisadoras observam uma subnotificação de matrículas, contrastando com as estimativas internacionais, que apontam entre 15% e 20% da população estudantil com potencial de altas habilidades, dependendo do modelo referencial adotado.
Sobre as autoras:
Denise de Souza Fleith – Possui graduação e mestrado em Psicologia pela Universidade de Brasília e doutorado em Psicologia Educacional pelo National Research Center on the Gifted and Talented da University of Connecticut. Realizou pós-doutorado na National Academy for Gifted and Talented Youth (University of Warwick), na Inglaterra, e na Universidade do Minho, em Portugal. Professora titular e pesquisadora colaboradora sênior do Programa de Pós-graduação em Psicologia do Desenvolvimento e Escolar do Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília. Ex-presidente do Conselho Mundial para Crianças Superdotadas e Talentosas (World Council for Gifted and Talented Children).
Cristiana de Campos Aspesi – Graduada em Psicologia pelo Centro de Ensino Unificado de Brasília, com especialização em Saúde Mental da Infância e Adolescência pela Secretaria de Saúde do Distrito Federal, mestrado em Psicologia pela Universidade de Brasília e doutorado em andamento em Psicologia pela Universidade de Brasília. É professora titular de Psicologia da Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal. É delegada do Brasil no Conselho Mundial para Crianças Superdotadas e Talentosas (World Council for Gifted and Talented Children).

