O Supremo Tribunal Federal (STF) debate hoje uma questão de extrema importância para famílias afetadas pela distrofia muscular de Duchenne (DMD). A corte irá mediar uma audiência de conciliação sobre a responsabilidade do governo federal no fornecimento do Elevidys, um medicamento que custa R$ 17 milhões por paciente. O tratamento é considerado a única esperança para retardar o avanço da doença, embora ainda esteja em processo de aprovação pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Para os pacientes, o tempo é um fator crucial, e a espera por decisões judiciais tem sido angustiante.
Histórico
Na primeira audiência de conciliação, realizada em agosto, representantes do Ministério da Saúde, da Anvisa, da farmacêutica e de hospitais credenciados discutiram a possibilidade de incluir o Elevidys no programa de acesso expandido ou uso compassivo, permitindo que mais pacientes tenham acesso ao medicamento antes da conclusão de seu registro definitivo no Brasil. A farmacêutica Roche manifestou interesse na conciliação, mas solicitou mais tempo para apresentar uma proposta concreta de fornecimento.
Além do alto custo individual do medicamento, o impacto financeiro para o governo é significativo. Existem atualmente 55 ações judiciais em andamento pedindo o fornecimento do Elevidys, com 13 decisões liminares já favoráveis aos pacientes. Caso o governo federal seja obrigado a cumprir todas essas decisões, o impacto estimado é de R$ 252 milhões, valor que poderia ser reduzido se houvesse um acordo com o laboratório para facilitar o acesso ao medicamento de forma mais ampla.
O que diz a medicina?
O neurologista Maciel Pontes, que atua no tratamento da DMD, ressalta que o Elevidys deve ser administrado antes dos sete anos para que tenha maior eficácia. “Após essa idade, o potencial do medicamento para retardar a progressão da doença diminui drasticamente”, alerta Pontes. Ele também lembra que, apesar do avanço proporcionado pelo Elevidys, o tratamento requer acompanhamento médico contínuo, além de outras terapias complementares, como o uso de corticoides para melhorar a qualidade de vida do paciente.
A audiência no STF, prevista para hoje, pode abrir um precedente importante para o acesso a medicamentos de alto custo para doenças raras no Brasil. Famílias e especialistas esperam que o tribunal considere não apenas o impacto financeiro, mas também a urgência do tratamento e a necessidade de uma resposta rápida e eficaz para crianças que não podem esperar pela burocracia.
Sobre a DMD
A Distrofia Muscular de Duchenne é uma doença rara, sem cura, que afeta principalmente meninos e causa fraqueza muscular progressiva. Os sintomas geralmente começam a aparecer por volta dos cinco anos, e sem intervenções adequadas, os pacientes podem perder a capacidade de andar antes da adolescência. O Elevidys, desenvolvido pela farmacêutica Roche, é visto como um avanço significativo, mas seu custo elevado torna o acesso praticamente impossível para a maioria das famílias, o que leva o debate ao STF sobre o papel do governo em garantir esse tipo de tratamento.